Todos os estados brasileiros apresentam tendência de piora na epidemia por Covid-19, aponta levantamento

Todos os estados brasileiros apresentam tendência de piora na epidemia por Covid-19, aponta levantamento

Análise do histórico de mortes confirmadas por dia em cada estado mostra que Brasil ainda não passou, até agora, do chamado "pico" da curva exponencial. Pesquisadores brasileiros tentam identificar o pico da Covid-19 no país

Uma análise do número diário de novas mortes por Covid-19 confirmadas pelo governo federal mostra que todos os estados do Brasil ainda apresentam uma tendência de piora da epidemia. O levantamento, obtido pelo Jornal Hoje, foi elaborado por pesquisadores da Impulso, organização da sociedade civil que desde o ano passado oferece apoio a municípios na gestão de programas como redução das filas em creches, da mortalidade infantil e da infrequência escolar. Desde março, a equipe passou a se dedicar apenas ao apoio no combate ao novo coronavírus (assista no vídeo acima).

A metodologia usada na análise inclui uma comparação do histórico de novas mortes confirmadas dia a dia em cada estado brasileiro. Não se trata, segundo o grupo, de um ranking de qual estado tem mais mortes, mas sim do tempo que cada um deles leva para dobrar o número de mortes já com a confirmação da doença.

Análise elaborada pela ONG Impulso mostra que todos os estados brasileiros têm tendência de piora no número diário de mortes confirmadas por Covid-19

Divulgação/Impulso

Para apresentar os dados, o grupo decidiu indicar a tendência usando cores para cada dia desde o início da epidemia no Brasil:

Em verde estão os dias em que o estado teve poucas mortes confirmadas, na comparação com seus piores dias;

A escala muda gradualmente até a cor vermelha, que indica os dias com o maior número de novas mortes;

Os dados consideram apenas as estatísticas oficiais, e não corrigem o atraso entre a data em que a morte ocorreu e a data em que ela foi confirmada;

Isso quer dizer que os dias anteriores provavelmente tiveram mais mortes, mas que os dias recentes também tiveram mortes que ainda não foram confirmadas;

No caso do Brasil, as datas mais recentes são as que mais aparecem em vermelho em todos os 26 estados e no Distrito Federal.

"Isso mostra que todos os estados ainda estão enfrentando seu pior momento até então", explicou à TV Globo João Moraes Abreu, co-fundador da Impulso. Ele ressalta, porém, que a análise não inclui nenhuma projeção para o futuro. "É difícil saber se é o pior momento em geral, se chegamos no pico, se vamos reverter ou se é o começo de uma piora ainda mais acentuada."

Países que já passaram pelo pior

A ONG também fez o mesmo levantamento para os países que acumulam o maior número de mortos até agora.

O Brasil está na sexta posição, atrás de Estados Unidos, Reino Unido, Itália, França e Espanha. No entanto, a visualização indica que, enquanto aqui os números diários de novas mortes confirmadas seguem aumentando, nesses cinco países a tendência já é de queda.

Segundo a ONG Impulso, mapa de calor indica que Brasil tem tido mais mortes diárias que os cinco países com mais mortes acumuladas

Divulgação/Impulso

"Nenhum país, estado ou cidade sabe se atingiu ou não o pico da doença, até que ele já tenha passado. Mas você pode olhar para trás e perceber que o pico ainda não foi superado quando a situação está piorando a cada dia", afirmou ele.

Outra forma de mostrar a "curva"

A tabela por cores foi a forma que a Impulso encontrou para auxiliar os prefeitos brasileiros a comunicar à população que o pior da epidemia ainda não passou, explicou Abreu, que fundou a Impulso em 2019, junto com sua colega Isabel Opice, depois que os dois concluíram o mestrado em administração pública na Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

"Em nossa pesquisa, vários municípios pequenos apontaram estar mais preparados na frente de governança e comunicação, mas menos em assistência básica e vigilância. Nas conversas recentes, quase todos citam como principal desafio "fazer as pessoas ficarem em casa" ou "fazer as pessoas entenderem que é sério"", afirmou o economista.

"A conscientização da população em lugares afastados dos atuais epicentros da doença é difícil; até que seu tio ou colega do trabalho seja hospitalizado, não parece que é real."

Apoio no combate à Covid-19

A ideia da Impulso é oferecer apoio para gestores públicos brasileiros aprimorarem sua capacidade de coletar e analisar dados para embasarem suas políticas públicas.

Com a epidemia do novo coronavírus, o grupo se uniu ao Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) e ao Instituto Arapyaú para criarem o projeto Corona Cidades [https://coronacidades.org/]. Além de análises como a acima, eles também desenvolveram o SimulaCovid, uma ferramenta que auxilia os gestores a entender a situação de leitos e ventiladores por regional de saúde do município, para se planejar para expandir a estrutura e dar conta da demanda prevista de casos graves.

O site está no ar desde 30 de março e, no mês de abril, teve 20 mil acessos únicos. Abreu diz que 58 municípios já encaminham diariamente para o projeto os números de leitos, para que as simulações sejam feitas com os dados mais atualizados, já que muitas vezes as estatísticas oficiais, mantidas pelo Ministério da Saúde, levam mais tempo para refletirem os números reais.

A partir desta quinta-feira (14), o Corona Cidades vai atualizar diariamente o mapa de calor indicando a tendência de mortes por Covid-19 por estado.

"Essa vizualização, atualizada diariamente no nosso site, será capaz de informar rapidamente quando tivermos passado o pico, ao menos da primeira onda", explicou ele.

"Mas se esse pico será maior ou menor, mais cedo ou mais tarde, isso não depende dos dados: depende do que os governos e, especialmente, a população fará para reduzir o ritmo de contágio da doença, em cada município brasileiro."

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