Por que estamos tendo uma visão distorcida da realidade?

Por que estamos tendo uma visão distorcida da realidade?

Doenças, pobreza, desemprego, conflitos… Quem não conhece alguém que já disse estar cansado das notícias porque não aguenta mais ver tantos acontecimentos ruins? E, diante de tantas reportagens negativas, quem nunca ouviu alguém falar algo como “esse mundo está cada vez pior” ou “esse mundo não tem solução mesmo”?

Embora tenhamos a sensação de que a humanidade está regredindo, na prática, estudos apontam que isso não passa, na verdade, de uma impressão compartilhada pela maioria das pessoas. Segundo o livro “Factfulness: O Hábito Libertador de Só Ter Opiniões Baseadas em Fatos”, o planeta de hoje é melhor do que já foi no passado.

A partir de dados, análises e estatísticas, a obra, escrita pelo falecido médico, estatístico e acadêmico Hans Rosling, em parceria com o seu filho, Ola Rosling, e sua nora, Anna Rosling, mostra que, ao longo dos anos, o mundo foi evoluindo em uma série de aspectos morais e sociais. Porém, perdemos a capacidade de enxergar essas melhorias devido à forma distorcida como encaramos a realidade.

Prova disso é um teste feito pelos autores para avaliar a capacidade dos indivíduos de reconhecer tendências globais. Os entrevistados tiveram que responder a perguntas como “a pobreza tem aumentado nos últimos anos?”, “hoje, a mortalidade infantil é maior ou menor do que no passado?” e “em relação a novas espécies ameaçadas de extinção, estamos em um patamar melhor, pior ou igual ao que estávamos 20 anos atrás?”. O resultado do questionário mostra que a maioria dos participantes não acertou mais de 1/3 das questões – em geral, eles tendiam a responder que o presente era pior do que o passado, o que nem sempre era verdadeiro.

Na prática, isso significa que, se um chipanzé escolhesse as respostas do questionário aleatoriamente, poderia ser mais bem-sucedido no teste do que os entrevistados – pessoas de alta escolaridade, como professores, jornalistas e vencedores do prêmio Nobel.

Hans Rosling explica que essa visão superdramática e pessimista das pessoas se deve a uma série de fatores, entre eles a forma como consumimos notícias e conteúdos que disseminam o medo. Ele aponta, por exemplo, como informações de teor negativo têm capacidade maior de se espalhar e como a mídia dá pouca atenção para notícias positivas, que apontam melhoras em algum setor.

É claro que precisamos ser informados quando há algo de ruim acontecendo no mundo. No entanto, a forma como esses conteúdos são abordados pela mídia muitas vezes contribuem mais para que as pessoas enxerguem o problema do que a solução da questão.

Nesse sentido, Hans reforça a importância de os veículos midiáticos tratarem os problemas do cotidiano a partir de diversos ângulos e perspectivas, a fim de fazer com que o consumidor daquele conteúdo tenha uma visão ampla do que está acontecendo e não um entendimento parcial ou equivocado dos fatos. Além disso, o autor destaca a importância de o jornalismo não focar apenas o aspecto negativo, mas na solução para o problema tratado.

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