EUA: desaparecimento da jovem brasileira completa 20 dias

Manuela Cohen, de 17 anos, saiu de casa no dia 20 de novembro, apenas com um caderno de desenho em mãos, na cidade de Washington (EUA).

Manuela Cohen tem 17 anos. | Reprodução/Redes Sociais

Manuela Cohen tem 17 anos. | Reprodução/Redes Sociais

No dia 20 de novembro, Manuela Cohen, 17, saiu de sua casa em Washington com um caderno de desenhos, e ainda não voltou. Frustrados com o tratamento que a polícia americana vem dando ao caso, os pais da jovem contrataram um detetive particular, e agora esperam que a divulgação do caso na imprensa impulsione um avanço nas investigações.

No dia seguinte ao desaparecimento, a jovem entrou em contato com os pais por meio de mensagens de texto enviadas de um novo número --ela havia deixado o celular em casa na véspera. A mãe, Sofia Keller, conta que a filha disse que estava em Baltimore, uma cidade a cerca de uma hora de Washington, e que estava segura.

"Eu só estou muito abalada e preciso de um tempo para mim", escreveu a jovem, de acordo com a mãe. "Ela ainda falou 'não posso falar com vocês agora, estou com muita dor de cabeça e não consigo pensar em nada. Preciso focar em mim e prometo que vou voltar melhor. Não vou ficar muitos dias, e amanhã eu ligo'", reconta Sofia.

Os pais tentaram ligar para o telefone, sem sucesso. A polícia, que já havia sido acionada por Sofia e seu marido, Bruno, na mesma noite do desaparecimento da filha, também foi alertada. A mãe conta que a policial de plantão também tentou entrar em contato com Manuela, sem sucesso, que apenas respondeu por mensagens de texto e enviou uma foto, como prova de que estava bem. Essa foto está sendo usada pelas autoridades nos cartazes de desaparecimento.

Desde esse contato, no entanto, nem os pais nem a polícia tiveram mais notícias de Manuela. Segundo Sofia, foi apenas no 10º dia de desaparecimento da filha que o casal conseguiu conversar com o detetive designado para o caso --que, de acordo com ela, ainda não sabia de nada do que estava acontecendo. Ele justificou a situação por ter estado de férias, afirma a mãe.

Sofia afirma que a impressão da família é que a polícia vem tratando o caso como se fosse apenas uma adolescente que fugiu de casa. "Nós ouvimos o detetive dizer que desaparecimento não é crime, para justificar as limitações da polícia em olhar o computador dela, o celular, as redes sociais", diz.

Procurado pela Folha, o departamento de polícia de Washington afirmou que o caso de Manuela é uma investigação ativa e que não há nenhuma informação adicional a ser fornecida no momento.

O casal buscou auxílio também da embaixada e do consulado brasileiros em Washington, que forneceu assistência jurídica. Os dois já haviam colocado em prática, porém, boa parte das orientações recebidas, exceto a contratação de um detetive particular --o que fizeram logo depois.

A pessoa contratada os orientou a passar seu contato para a polícia, para que ambas as investigações corram juntas. As autoridades americanas, no entanto, ainda não fizeram contato com o investigador particular, diz Sofia.

A família se mudou de Brasília para a capital americana no final de 2017, quando Manuela tinha 11 anos. De acordo com Sofia, a jovem, bastante expansiva, se adaptou rapidamente ao novo país.

Há cerca de três anos, no entanto, a jovem começou a enfrentar problemas com depressão e ansiedade, e iniciou um tratamento. No final do ano passado, a situação se agravou, quando os pais descobriram que a filha estava usando fentanil, um opioide sintético até cem vezes mais potente que a morfina.

Legalmente, a droga é usada sob prescrição médica no tratamento de dores intensas, como durante uma pós-cirurgia. Já seu uso ilegal se tornou um problema de saúde pública nos EUA --altamente viciantes, opioides sintéticos são, hoje, a causa mais comum de mortes por overdose no país.

Logo após a descoberta do problema da jovem com drogas, os pais a internaram em uma clínica de reabilitação, onde ela ficou dois meses, em janeiro e fevereiro deste ano.

Segundo Sofia, inicialmente Manuela não entendia por que havia sido internada e sentia muita raiva dos pais, mas com o tempo mudou de comportamento e se engajou no tratamento. Quando saiu da clínica, a mãe afirma que a jovem estava comprometida com o tratamento.

Em março, porém, ela teve uma recaída, que resultou em uma overdose. Depois, a jovem contou que recebeu a droga de um amigo, com quem, segundo os pais, ela mantinha um relacionamento pelo menos ao longo do último mês.

Manuela não havia contado para a família que havia retomado o contato com esse jovem, de 21 anos. O casal descobriu depois de acionarem a polícia, que, após procurá-lo em sua casa, soube pelos pais dele que a adolescente havia estado no local na véspera. Posteriormente, eles conversaram com o rapaz, que negou o relacionamento e disse não ter informações sobre o paradeiro de Manuela. Tentativas de obter informações de amigos da jovem também não resultaram em nada.

"Eu tenho procurado não pensar nas hipóteses [para o desaparecimento], eu quero me apegar à ideia de que ela realmente precisava de um tempo, e vai voltar", diz Sofia. "O meu medo, e não o que eu acho que aconteceu, é que ela esteja envolvida com essa droga."