Apontado como um dos favoritos ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua atuação em "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo", Ke Huy Quan, 51, vem comovendo o público das premiações pelas quais anda passando –e ganhando praticamente tudo. Seus discursos emocionados e cheios de gratidão são sinceros e têm razão de ser.
Astro mirim lançado por Steven Spielberg nos anos 1980, Quan foi desprezado pela indústria do cinema por quase 40 anos, até dar a volta por cima com o personagem Waymond Wang neste drama sci-fi em que um casal de meia-idade se vê no centro de uma aventura pelo multiverso. O filme lidera a corrida pelas estatuetas, com 11 indicações.
Por este papel, o ator vietnamita já levou para casa alguns dos mais importantes prêmios da temporada, como o Globo de Ouro, o Critics Choice Awards e o Screen Actors Guild (SAG Awards). Os três são os grandes termômetros para a cereja no bolo: o Oscar. Sua conquista seria como um filme de final (muito) feliz para Quan, que vinha comendo o pão que o diabo amassou em Hollywood.
Se você tiver mais de 40 anos deve se lembrar: Quan era o mais magrelinho dos amigos da turma de "Os Goonies", um clássico da Sessão da Tarde. O filme, lançado em 1985, foi seu segundo trabalho no cinema, o segundo com Steven Spielberg –um ano antes ele havia atuado em "Indiana Jones e o Tempo da Perdição". Dois longas com Spielberg aos 14 anos... quem imaginaria que a carreira poderia desandar?
Pois desandou. Depois de pequenas participações em produções irrelevantes, ele praticamente sumiu das telas. "Passei muito tempo tentando me convencer de que não gostava de atuar. Não queria ficar com a sensação de que era porque não havia oportunidade. Eu estava mentindo para mim mesmo. Meus amigos faziam testes toda semana; quatro, seis, e eu ficava envergonhado em dizer que não fazia há muitos meses", contou, em recente entrevista ao programa The Late Show with Stephen Colbert.
Quan passou a trabalhar nos bastidores como assistente de direção e coordenador de sequências de ação, como nas coreografias das cenas de luta de "X-Men", além de escrever curtas-metragens. Já estava desanimando. "É sempre difícil fazer a transição de criança para adulto quando se é ator, mas quando você é asiático, é cem vezes mais difícil. Os seus 20 e poucos anos deveriam ser os anos dourados, mas tudo que eu fiz foi esperar o telefone tocar", contou, em fevereiro passado.
Até que em 2018, touché! Ao assistir ao filme "Podres de Ricos", com elenco formado quase 100% por asiáticos, viu que havia, sim, espaço para gente como ele no cinema, e procurou um agente para ajudá-lo a voltar ao mercado. "Eu realmente dou crédito a esse filme. É um filme tão seminal para mim. Eu senti, 'Oh meu Deus', é isso que eu quero fazer depois de me afastar por tantos anos."
Pouco depois, tinha em mãos o roteiro de "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo".
Mas, entre as gravações, em 2020, e o lançamento do longa, em 2022, Ke passou mais dificuldades. Por não estar na ativa, ficou sem o plano de saúde oferecido pelo Sindicato dos Atores. "Eu estava para perder, então liguei para meu agente e falei: 'Você pode me conseguir alguma coisa? Qualquer coisa, não importa, eu só preciso de um trabalho para cumprir o requisito mínimo e receber o plano de saúde do ano seguinte'. E eu não consegui um único papel. Então, em 2021, eu perdi meu plano".
É por essas e outras que, ao conquistar o Globo de Ouro, em janeiro de 2023, o ator fez um discurso em que agradecia e reverenciava quem lhe deu a chance de estrear no cinema. "Fui criado para nunca esquecer de onde vim e sempre lembrar quem me deu minha primeira oportunidade. Estou muito feliz em ver Steven Spielberg aqui esta noite. Muito o brigado, Steven". Neste domingo (12), a cena pode se repetir no Oscar.
Fonte: AO MINUTO