Momentos mais tarde, Boris anunciou um novo lockdown para tentar travar a disseminação da nova variante da doença e a subida nos casos de infecção pela Covid-19.
Nas últimas 24 horas, o Reino Unido registrou 58.784 novos casos de Covid-19, maior número diário e sétimo dia consecutivo com mais de 50 mil novos doentes por dia. O número de casos vinha crescendo no último mês, mas a transmissão se acelerou levando as estatísticas da última semana a um salto de 50% em relação à semana anterior, com um número de testes equivalente.
A tendência aumentou com o surgimento de uma nova variante do Sars-Cov-2 (conhecida como B117 e até 70% mais transmissível).
Desde o começo da pandemia, já morreram no país mais de 75 mil pessoas, o que coloca os britânicos ao lado dos italianos no topo do ranking de óbitos por coronavírus na Europa. Nas últimas 24 horas, houve mais 407 mortes, e as taxas semanais têm crescido.
"Se você olhar para os números, não há dúvida de que teremos que tomar medidas mais duras", disse Boris em entrevista pela manhã.
Desde sábado, o governo inglês sofreu pressão do sindicato dos professores e de políticos do Partido Trabalhista, de oposição, para não retomar as aulas presenciais por ao menos um mês. Os sindicatos dizem que "a abertura caótica" das escolas por parte do governo está "expondo os trabalhadores do setor de educação a sérios riscos de problemas de saúde e pode alimentar a pandemia".
Nesta manhã, Matt Hancock, secretário (equivalente a ministro) da Saúde britânico, rebateu as críticas: "A proporção de professores que pegam o coronavírus não é maior do que o resto da população", afirmou ele, argumentando que o fechamento tem sérios impactos negativos e só deve ser feito como último recurso. "A educação também é muito importante, especialmente para a saúde a longo prazo das pessoas."
A Comissária das Crianças para a Inglaterra, Anne Longfield, sugeriu que professores sejam vacinados com prioridade para evitar a transmissão e também o fechamento das escolas. O Reino Unido foi um dos primeiros países a começar a vacinação em massa, mas tem priorizado idosos e profissionais de saúde. Segundo Longfield, a suspensão das aulas é uma ameaça à saúde mental das crianças e deve ser evitada ao máximo.
Na batalha política em torno da pandemia de coronavírus, opositores de Boris Johnson usaram a entrevista de uma enfermeira de hospital infantil à rádio BBC, relatando um aumento expressivo de internação de crianças com Covid-19.
A declaração, no entanto, foi contestada por pediatras de vários hospitais. Ronny Cheung, representante de saúde infantil no Comitê Consultivo de Indicadores do Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidado, também desmentiu, em rede social, o relato da enfermeira.
"Fui o consultor de plantão em um hospital infantil de Londres esta semana, e isso simplesmente não é verdade. É irresponsável ao extremo. Assusta os pais. Covid é comum em hospitais, mas não entre crianças. Já temos o suficiente com que lidar sem mais esse lixo", escreveu o médico.
Os dados mais recentes do sistema de saúde britânico estão atualizados só até o começo de dezembro, quando não indicavam aumento em casos infantis. Crianças de 0 a 5 anos eram apenas 0,55% dos internados com Covid-19 diariamente, mesma taxa dos de 6 a 17 anos, e a proporção vinha se mantendo nessa faixa por várias semanas.
Se as crianças são menos afetadas pela doença, porém, ainda há dúvidas sobre o papel das escolas na disseminação do coronavírus de forma mais ampla, com alunos assintomáticos transmitindo o patógeno entre si e levando a doença a seus familiares.
A Inglaterra funciona hoje com um sistema de quatro etapas de restrições: moderadas, altas, muito altas e confinamento. Nenhum deles, porém, prevê o fechamento das escolas – nem mesmo o mais alto, cuja ordem é ficar em casa.
Até a véspera do Ano Novo, 22% da população da Inglaterra ainda estava no nível 3, de restrições muito altas, não é possível receber estranhos em casa e reuniões na rua deve ter no máximo seis pessoas. Bares e restaurantes são fechados, entre outras restrições, mas a maior parte das lojas pode funcionar.
Os outros 78% já estavam no nível 4, no qual são fechadas todas as lojas, cabeleireiros e locais de lazer e reuniões fora de casa se limitam a duas pessoas,
Hancock afirmou que o governo olha os números diariamente e vinha constatando aumento dos casos em áreas que ainda estavam no nível 3. Mas, segundo ele, impedir a transmissão é muito mais uma questão de atitude pessoal que de restrições do governo. "Volto a este ponto mais amplo, que é sobre todos nós: o que impede a propagação da doença é as pessoas não entrarem em contato com outras pessoas. Essa é a triste verdade."
Segundo o secretário de Saúde, o sistema de saúde está sob pressão, mas ela não é maior que a que ocorreu no primeiro pico da doença.
No final de semana, o secretário (correspondente a ministro) da Educação, Gavin Williamson, disse que estava se preparando para a necessidade de manter o ensino online, com o projeto de entregar mais 100 mil notebooks às escolas nesta semana. A falta de acesso às aulas remotas por parte de alunos mais pobres têm sido um dos efeitos mais graves do fechamento de escolas, aumentando a desigualdade.
Em declaração oficial, o Departamento de Educação britânico afirmou que a prioridade é que "as salas de aula sejam reabertas sempre que possível no novo semestre" e a educação à distância seria usada como último recurso.
A Inglaterra tem 4,5 milhões de alunos do ensino fundamental em escolas estatais, e 2,75 milhões de estudantes na escola secundária.
França reabre escolas
O governo francês vai retomar as aulas para todos os alunos do sistema público, de acordo com a Radio France. A afirmação foi feita pelo ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, neste domingo (3).
Segundo ele, haverá um "protocolo sanitário reforçado" e o governo ficará atento a um eventual aumento de casos por causa da variante britânica, mais contagiosa. "Somos sempre capazes de ajustes, no futuro, se necessário", mas, "podemos perfeitamente organizar a volta às aulas", disse ele
Escolas de ensino fundamental reabriram nesta segunda, e o objetivo é que 100% dos alunos do ensino médio voltem às aulas presenciais em 20 de janeiro. O ministro também defendeu que os professores sejam vacinados o mais rapidamente possível, "no máximo em março".
De acordo com a Radio France, vários especialistas defendem a volta às aulas na França, como Robert Cohen, pediatra infectologista e presidente do Conselho Nacional de Pediatria do país. Segundo ele, a França "não está na mesma situação que o Reino Unido e a Alemanha".
"A vida sem escola, sabemos que custa caro. Por isso é preciso voltar às aulas e, sim, esse é um bom momento", defendeu, em entrevista à Franceinfo.
Fonte: Noticias ao Minuto