Alimentos ficam mais caros com a inflação de novembro

A alta de 0,63% em alimentação e bebidas é a maior para meses de novembro desde 2020.

Onda de calor e excesso de chuvas impactaram colheita de legumes e hortaliças. | Foto: reprodução

Onda de calor e excesso de chuvas impactaram colheita de legumes e hortaliças. | Foto: reprodução

Pressionada por alimentos e passagens aéreas, a inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), acelerou a 0,28% em novembro, após marcar 0,24% em outubro.

Mesmo assim, a taxa de 0,28% é a menor para o penúltimo mês do ano desde 2018, quando o IPCA teve queda (deflação) de 0,21%, apontam dados divulgados nesta terça-feira (12) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O novo resultado ficou levemente abaixo da mediana das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,29% em novembro.

No acumulado em 12 meses, o IPCA desacelerou a 4,68%, abaixo do teto da meta de inflação para o ano de 2023 (4,75%). Nesse recorte, a alta dos preços era de 4,82% até outubro.

ALIMENTOS MAIS CAROS COM CALOR E CHUVAS

De acordo com o IBGE, os preços de 6 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados subiram em novembro. A maior variação (0,63%) e o principal impacto no IPCA (0,13 ponto percentual) vieram de alimentação e bebidas. O segmento acelerou ante outubro (0,31%).

Em novembro, parte do país, incluindo o Sudeste, passou por onda de calor, enquanto o Sul voltou a registrar fortes chuvas. Conforme o IBGE, os fenômenos extremos pressionaram os preços de alimentos diversos, que costumam subir na reta final do ano.

"As temperaturas mais altas e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país são fatores que influenciam a colheita de alimentos, principalmente os mais sensíveis ao clima, como é o caso dos tubérculos, dos legumes e das hortaliças", disse André Almeida, gerente da pesquisa do IPCA.

A alta de 0,63% em alimentação e bebidas é a maior para meses de novembro desde 2020 (2,54%).

"Historicamente, a gente observa alta nos preços dos alimentos mais para o final do ano. Agora, no mês de novembro, a gente teve ondas de calor e volume de chuvas bem intensas em regiões produtoras. Esses fatores contribuíram para a alta dos preços nesses produtos", afirmou Almeida.

A alimentação no domicílio, que integra o cálculo de alimentação e bebidas, subiu 0,75% em novembro. Houve impacto dos avanços dos preços da cebola (26,59%), da batata-inglesa (8,83%), do arroz (3,63%) e das carnes (1,37%).

Do lado das quedas, os destaques foram o tomate (-6,69%), a cenoura (-5,66%) e o leite longa vida (-0,58%). No caso do tomate, Almeida disse que o calor acelera a maturação, o que força os produtores a disponibilizarem oferta maior no mercado, aliviando os preços.

A alimentação fora do domicílio (0,32%), por sua vez, desacelerou em relação a outubro (0,42%).

PRESSÃO DA PASSAGEM AÉREA

O IPCA também foi pressionado pelos grupos habitação (0,48%) e transportes (0,27%) no mês passado. Os segmentos contribuíram com 0,07 ponto percentual e 0,06 ponto percentual, respectivamente.

Em habitação, houve influência de reajustes aplicados por concessionárias de serviços públicos, disse o IBGE. A energia elétrica residencial, por exemplo, fechou o mês com avanço de 1,07%.

No grupo dos transportes, a alta de 0,27% foi puxada pelo aumento da passagem aérea, que subiu 19,12%. O bilhete foi o subitem com a maior contribuição individual no IPCA de novembro (0,14 ponto percentual).

Almeida lembrou que a passagem costuma ser pressionada pela demanda maior na reta final do ano. Segundo o pesquisador, um movimento semelhante ocorreu com os preços de subitens como transporte por aplicativo (3,42%), hospedagem (2,17%) e pacote turístico (2,09%), que também ficaram mais caros em novembro.

O mês passado teve o registro de feriados. Esses períodos costumam estimular a procura por serviços turísticos.

ALÍVIO COM GASOLINA E BLACK FRIDAY

No grupo dos transportes, da gasolina caiu 1,69%, causando um impacto de -0,09 ponto percentual no IPCA de novembro. Foi a maior contribuição de um subitem pelo lado das quedas.

Ou seja, o combustível ajudou a frear a inflação. Segundo Almeida, a gasolina pode ter sido influenciada pela redução dos preços nas refinarias da Petrobras na segunda metade de outubro.

Outro fator que ajudou a conter o IPCA, apontou o pesquisador, foi a Black Friday. Os descontos teriam freado os preços de bens diversos, incluindo vestuário, eletrônicos e produtos de higiene pessoal.

O aparelho telefônico caiu 2,68%, o perfume baixou 2,49%, e o computador pessoal recuou 2,22%, por exemplo. "A gente observou promoções antes da Black Friday, na própria Black Friday e até depois", disse Almeida.

IPCA, META DE INFLAÇÃO E JUROS

O IPCA serve como referência para o regime de metas de inflação do BC (Banco Central). No acumulado de 2023, o centro da medida perseguida pela autoridade monetária é de 3,25%.

A tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%). Ou seja, a meta será cumprida se o IPCA ficar dentro desse intervalo até dezembro.

Na mediana, analistas do mercado financeiro projetam variação de 4,51% no acumulado de 2023, abaixo do teto da meta (4,75%), de acordo com a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (11) pelo BC.

Nesta terça, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) inicia a última reunião deste ano para definir o patamar da taxa básica de juros (Selic), o principal instrumento de controle da inflação. O encontro será retomado nesta quarta (13), quando a decisão do colegiado será comunicada.

Com a trégua do IPCA nos últimos meses, analistas esperam que o Copom dê continuidade ao ciclo de cortes da taxa de juros. A expectativa é de uma nova redução de 0,5 ponto percentual, que levaria a Selic a 11,75% ao ano.