Com isso, Moscou busca colocar mais pressão sobre a nova administração americana de Joe Biden, que toma posse na semana que vem, visando a extensão do último acordo de redução de armas atômicas em vigência.
O Open Skies começou a ser negociado em 1955, a Guerra Fria, e só foi assinado no ano seguinte à dissolução da União Soviética, 1992.
Ele previa que os 35 países signatários combinassem voos de reconhecimento mútuos sobre regiões de interesse militar. Isso era uma forma de aumentar a confiança entre as partes, dado que o levantamento fotográfico e com sensores espiões seria chancelado.
Assim, se a Rússia estivesse colocando mais forças nucleares, por exemplo, no encrave europeu de Kaliningrado, elas seriam vistas.
Trump alegou que os russos vetavam algumas regiões e usavam seus voos para espionar os EUA e aliados, o que era a razão de ser do tratado. Anunciou sua saída em maio de 2020, e ela foi consumada em novembro.
"Dada a falta de progresso nos esforços para remover o funcionamento futuro do tratado nessa nova situação, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia anuncia os procedimentos para deixar o Open Skies", afirmou a pasta em nota.
Na prática, Moscou não quer que os outros 33 participantes do acordo, majoritariamente europeus e participantes da Otan (aliança militar ocidental), continuem a poder sobrevoar a Rússia e dividir os dados coletados com o chefe do clube, os EUA.
Mas a questão subjacente é o Novo Start (sigla inglesa para Tratado de Redução de Armas Estratégicas), que expira em 5 de fevereiro.
Principal instrumento de controle de armas nucleares entre as duas superpotências do campo, ele coloca um teto de 1.550 ogivas operacionais para cada lado, além de limites para plataformas de lançamento em solo, mar e ar.
Desde que assumiu em 2017, Trump denunciou as estruturas do fim da Guerra Fria como obsoletas. Deixou o importante acordo que impedia a instalação de mísseis de alcance intermediário (500 km a 5.500 km) na Europa, dizendo que os russos se preparavam para disfarçar o uso desse tipo de arma.
Já Moscou apontava para o fato de que os sistemas antimísseis instalados no Leste Europeu pelos americanos poderiam ser usados de forma ostensiva sem grandes dificuldades.
O jogo de culpas é mútuo e muitas vezes, ambos têm razão. Só que Trump liderou a rodada de agressividade, saindo também do Open Skies e criando óbices à renovação do Novo Start.
Em dois anos de negociações, exigiu primeiro que a China e suas 320 ogivas atômicas fossem incluídas no acordo, o que Moscou e Pequim não aceitaram, e depois disse que toparia uma extensão se os russos congelassem qualquer desenvolvimento de seu arsenal.
O presidente Vladimir Putin disse não, e ficou por isso. Biden afirmou na campanha eleitoral que gostaria de renovar o acordo, o que teria de ser uma de suas primeiras medidas em política externa, dado o tempo reduzido até a expiração do texto.
Com o movimento desta sexta, Moscou lembra Washington que o relógio está correndo. O próprio Putin já afirmou esperar uma Presidência americana mais agressiva ante a Rússia sob o democrata, lembrando as posições do governo de Barack Obama, de quem Biden foi vice.
Isso não reduz o papel de Trump de aumentar a tensão. Ele ordenou a entrada em serviço de uma bomba nuclear de potência reduzida, para ser lançada de submarinos, e deixou vazar uma simulação de uso da arma contra a Rússia.
A Rússia foi clara: qualquer lançamento de míssil por submarino americano seria interpretado como um ataque atômico. Ou seja, a retaliação incorreria no risco do Apocalipse.
Putin fez sua parte também, ampliando a produção do que chamou de "armas invencíveis", como os mísseis hipersônicos, modelos destinados a furar defesas antibalísticas. Eles foram desenvolvidos após a percepção de que os sistemas antimísseis na Europa, instalados nos anos 2000, eram ameaças diretas a Moscou.
Noticias ao Minuto