Paulo Coelho elogiou a "clareza" de Gabriela Prioli ao explicar política a Anitta, em live que teve 40 mil pessoas simultaneamente assistindo e mais de 3 milhões de views. Aos 34 anos, a advogada criminalista, professora e youtuber está sob os holofotes. Com a amiga cantora, fez a segunda live, na última sexta-feira (14). "Não sei quantas mais vamos fazer". Tem sido chuva de likes, mas também de . "comentários que desmotivam", confessa Gabriela. "Sobretudo quando vem de gente que devia apoiar, ao invés de ver pelo em ovo", diz, à repórter Cecília Ramos, sem citar nomes.
A advogada ficou (mais) conhecida ao pedir demissão da CNN, onde fazia o quadro O Grande Debate. Durou duas semanas apenas. A emissora não aceitou sua demissão e ela acabou voltando. Mais: ganhou programa só seu no canal – porém, com a pandemia da covid-19, ficou sem data de estreia. Enquanto isso, ela está "no ar" como comentarista do CNN Pós-Pandemia.
A loira alta, magra, de olhos azuis – casada com o DJ famoso Thiago Mansur, do JetLag – está longe de ser a "barbie fascista" (apelido dado a ela no início do seu canal no YouTube e que remonta aos memes famosos das eleições presidenciais de 2018).
Gabriela presenciou, aos seis anos, a morte do pai, Francisco, em acidente de carro, estudou com bolsa "a vida toda", tem avó analfabeta e seu pai, que era contador, foi vigia neste Estadão. "Ele é meu anjo", diz a filha "tagarela" da fonoaudióloga Marta, com quem teve algumas sessões para falar mais pausado.
Você
é tida por Anitta como "madrinha" dela na política. Esta semana, a
cantora negou o desejo de concorrer a presidente. Acha que ela leva
jeito e pode concorrer a algum cargo?
Eu acho que ela, já
faz algum tempo, tem se interessado por aprender mais e está percebendo o
quanto suas ações podem ser relevantes. Por enquanto, ela faz diferença
no lugar que ocupa. Como isso vai evoluir é algo que só o tempo dirá.
Como surgiu a ideia de fazer live-aula sobre política?
Anitta me ligou e disse: "cara, bora fazer?" Eu topei. Ela é muito minha amiga.
Como você e Anitta ficaram amigas?
A
gente se conheceu na época do #EleNão (movimento contra Bolsonaro nas
eleições de 2018). Meu marido é músico e já a conhecia. A gente estava
em um hotel
A Anitta sofria pressão das pessoas para se posicionar
naquelas eleições. Tentei ajudar, do meu jeito. Ela se sentiu
confortável comigo e começou a me fazer perguntas. Para as lives, agora,
ela escolheu os temas. A primeira foi sobre Legislativo, Executivo e
Judiciário. Para a segunda, ela disse: "Amiga, me explica isso de
direita e esquerda". Eu: "Ah, facílimo, facílimo em 1 hora" (risos). Não
sei quantas mais vamos fazer.
Viralizou trecho da
primeira live com Anitta em que a cantora pergunta se os ministros do
STF não eram os mesmos ministros de Bolsonaro. Como você avalia essa
dúvida da cantora e, ao mesmo tempo, a reação das pessoas?
Então,
eu nem percebi na hora. Porque eles têm o mesmo nome: ministros. É uma
confusão razoável. Algumas coisas são feitas (na política) para não se
entender mesmo. Mas algumas outras são reproduções de um status quo. A
gente teve um problema severo de analfabetismo. Nossa elite era um grupo
pequenininho, e o palavreado difícil era um traço distintivo dessa
elite intelectual. Então isso também é uma reprodução da dominação que a
gente viveu. É delimitação de grupos mesmo.
Houve um
ponto que a Anitta tocou – mesmo sem saber -, que é a crise federativa
inédita na pandemia da covid-19. A cantora pergunta algo como:
"Bolsonaro é o presidente, diz que é contra o isolamento, mas os
governadores desobedecem
Como assim, ele é o presidente e não manda?"
Pois
é! É difícil mesmo! E ai? Como é isso? Como a gente explica? Não tem
resposta simples. É difícil. Até que ponto os governadores podem
descumprir a medida do presidente? Isso é complexo. Vai ter muita
judicialização. Por que você acha que no Brasil nós temos processo pra
caramba?
Tem ambiente pra impeachment de Bolsonaro, hoje?
Não
acho. Bolsonaro ainda tem muito apoio popular. Eu não acho que um
processo desse ande na Câmara, aliás tem vários protocolados e o Rodrigo
Maia não pegou nenhum pra dar andamento no plenário. Até porque se
iniciar o processo de impeachment e não passar, isso só ia fortalecer
ainda mais o discurso de Bolsonaro. Vide o Trump nos EUA. Então tem um
cálculo político aí que todos estão fazendo. Por outro lado, a gente tem
a possibilidade de ocorrer (o impeachment) via Judiciário. Havendo
denúncia do Procurador Geral – e o protagonismo sendo do Judiciário -,
aí, sim, eu acho que a Câmara poderia autorizar o processo.
Você pensa em entrar pra política, disputar mandato, já foi convidada por algum partido?
Não
penso não. (risos)
E nunca recebi convite. Agora é que você está dando
a ideia (risos)
Acho que me posiciono de forma tão clara que não chega
ninguém perto. Minha opção é comunicar. E acho que eu perderia essa
liberdade se estivesse num partido político.
Acha que falta às escolas públicas e privadas a tarefa de ensinar cidadania, introduzir a política, temas como os da live de vocês? Como disse Anitta, que afirmou que sua origem é humilde e que nunca se interessou pelo assunto e nem tão pouco foi estimulada
Pois é. Isso é outra questão relevante. Na escola não há uma formação sobre cidadania, sobre como exercer isso
Muito menos para o aluno se interessar por política. É muito por cima. Para as lives da Anitta indiquei cursos grátis, online, indiquei o site da Câmara, do Senado, lá tem explicando certinho o que cada um faz. Não dá em uma hora (de live) pra ensinar tudo. Mas senti que dá pra motivar as pessoas. O feedback foi incrível.
Paulo
Coelho escreveu pra você e Anitta, elogiando publicamente a live pela
"lição de civismo". Como foi o feedback no geral, muita gente elogiou?
Foi
o máximo. A Anitta, inclusive, que me mostrou: Amiga, cê viu? O Paulo
Coelho comentou
Outras pessoas públicas também comentaram, o Bruno
Gagliasso, a Nanda Costa, Ágatha Moreira, o Hugo Gloss, Livia Andrade,
Fernanda Rodrigues
Nossa, muita gente viu. Ficamos felizes.
Você também não tinha experiência de TV quando estreou na CNN, em março deste ano
E ai, que tal?
Então
Quando eu comecei na CNN foi a Anitta quem me ajudou. Achavam que eu
estava calma, na estreia, mas por dentro eu estava desesperada. Eu pedi a
Anitta dica para não me sentir tão nervosa. Ela disse que em momentos
assim fingia que era alguma "fodona". Então eu disse que ia ser a
Gabriela tipo Anitta. Você lembra da polêmica do shortinho tipo Anitta?
(Em fevereiro deste ano, um motorista de Uber em Porto Alegre teria
assediado passageira alegando que ela usava "short tipo Anitta
(curtinho)"; o homem foi banido do aplicativo) Então. Fiz a Gabriela
tipo Anitta. Deu certo.
Seu canal no YouTube está com 320
mil inscritos e agora faz parte da Play9 do youtuber Felipe Neto. Como
foi isso e o que podemos esperar dessa dupla?
Felipe
repostou um vídeo meu logo após a minha estreia na CNN. Ficamos em
contato e discutimos sobre a parceria no YouTube. Eu cuido do conteúdo e
a Play9, do restante. Esperamos atingir maior alcance com a mesma
linguagem e cuidado.
Você também já despertou a atenção de
gente como Marcelo Adnet, Gregório Duvivier e Fábio Porchat, que te
elogiaram. Que outras figuras públicas te contactaram?
A Carolina Dieckmann, Tatá Werneck, Rafa Brites, Didi Wagner, Marina Ruy Barbosa, Bruno Gagliasso
E com os haters, como lida?
Todas
as minhas redes são moderadas. Porque eu me preservo. Preciso cuidar da
minha saúde mental pra continuar fazendo bem o que eu faço. Tem haters
que dou até risadas. Mas prefiro não citar nenhum caso pra não jogar luz
nisso. O lado positivo é tão maior
Algum debate foi mais marcante pra você se posicionar?
A
decisão do Alexandre de Moraes (que suspendeu decreto de Bolsonaro
nomeando Alexandre Ramagem para diretor-geral da Polícia Federal). E foi
uma decisão monocrática, gente! Quanto que o Judiciário pode interferir
numa prerrogativa do presidente da República? Eu lembro que muita gente
me pressionou pra me posicionar em 5 min no Twitter. Eu disse: cama!
Preciso dar uma olhada, ler. Sou criminalista, não trabalho com direito
administrativo. Deixa eu entender. Não é porque eu faço muitas ressalvas
ao governo Bolsonaro que tudo que for contra ele eu vou concordar.
Tenho um grupo grande de advogados no WhatsApp e ai fui analisando os
pontos colocados ali. Fui ler, ouvir para formular meu posicionamento.
Não tem resposta simples.
Você, aliás, é cobrada a se
posicionar ora como sendo de esquerda ora "isentona". Também julgada por
ser mulher, bonita e num ambiente majoritariamente masculino. Como
lida?
Nunca achei que precisasse provar nada. Mas percebo o
preconceito até hoje (ser estereotipada pela aparência). Isso é
resolvido na minha cabeça. Mas quando digo que eu prefiro não me dar um
rótulo (político) é para que ouçam o que tenho a dizer. As pessoas vêm
dizer que eu não me posiciono, é ao contrário! Tá tudo lá no meu canal.
Querer dizer que eu sou isenta? Aí não dá mesmo!
Quando é a estreia do seu novo programa na CNN, já tem nome?
Não
tenho novidade sobre o novo programa, juro! Acham que estou guardando
segredo sobre isso, mas realmente a gente não está gravando nada. Veio
uma pandemia
. Sigo gravando lá (na CNN, o programa "CNN: Mundo Pós
Pandemia, como comentarista, ao lado das jornalistas Daniela Lima, Mari
Palma e Thais Herédia). Agora a emissora sabe que meu estilo é esse.
Procuro um tom ameno, acho que tenho uma abordagem respeitosa. Estamos
passando por um momento tão difícil no mundo que a gente não precisa
mais de perturbação mental, mas de paz de espírito. Para além disso, no
meu canal (YouTube), eu tenho muitos planos de fazer entrevistas com
outras pessoas. Mas veio a pandemia e tô nesse processo aí, como todo
mundo: em casa.
Muita gente acha que você fez sucesso rápido. O que diz?
Não!
Não foi! Eu fiquei dois anos afastada do escritório, trabalhando nas
coisas do meu marido (produção de videoclipe, por exemplo), fazendo meu
instagram e não tive esse "boom". Foram duas semanas da CNN e a coisa
virou. Mas digo para as pessoas: não percam seu entusiasmo. Comigo, não
foi da noite para o dia não. Venho me qualificando há bastante tempo.
Se preparem, seja pra uma pessoa ou pra um milhão.
Tem algo que te desmotiva?
Quando
dizem que eu não preciso me preparar, que é preciosismo. E eu insisto
no contrário, que eu preciso. Ficam querendo dizer que eu quero ser mais
profissional que todo mundo. Tem comentários também que desmotivam. Por
exemplo, na live da Anitta. Poxa, estamos fazendo uma ação pra
contribuir, não quer dizer que é o único jeito. Desmotiva, sobretudo
quando vem de gente que devia apoiar, ao invés de ver pelo em ovo.
Agora falando da sua quarentena, como tá?
Meu
marido tá com tudo parado, então ele me ajuda muito. Comprei um
videogame pra ele. Mas quem joga Mario Cart sou eu. Relaxo ouvindo
música, lendo poesia, assistindo a séries, como The Handmaid"s Tale.
Mas ainda não consegui incluir na rotina exercício físico. Eu adoro
correr na esteira
Acho que todo mundo se iludiu achando que ia estar em
casa e ia ter mais tempo pra si. Ainda mais eu, que me cobro muito,
sempre tive dificuldade de não ser produtiva. Então agora, os momentos
que tenho pra descansar, eu aproveito mesmo. Mas no momento, deixa eu te
mostrar como está aqui. Olha (vira a câmera do celular e mostra sua
mesa, cheia de livros e anotações). É a maior zona, olha isso! E no
mais, com esse isolamento, eu tô com muita saudade da minha mãe. Não a
vejo desde o começo da quarentena, ela é grupo de risco. Eu tenho
tentado ser otimista e acreditar que as coisas serão melhores
pós-pandemia. Me condiciono a isso, foi dessa forma que sobrevivi às
minhas tragédias pessoais.
Fonte: A Província do Pará