O caso da jovem LĂvia LetĂcia, de 20 anos, que foi aprovada no curso de Medicina da Universidade Federal do ParĂĄ (UFPA) após a divulgação do listão do vestibular 2023, mas indeferida durante a habilitação, por, supostamente, não atender aos requisitos da Cota Renda, ganhou projeção em todo o estado.
Depois da repercussão e pressão da imprensa, sociedade e autoridades, a UFPA se posicionou sobre o caso na tarde desta sexta-feira (17). Por meio de nota, a instituição disse que usou procedimento padrão na hora de indeferir a jovem moradora de Capanema e que sonhava em cursar a graduação em Medicina.
A universidade ressaltou que "avalia a condição de renda do estudante exclusivamente por meio da documentação apresentada. Em caso de não apresentação ou apresentação incompleta dos documentos, o estudante tem a chance de resolver qualquer pendĂȘncia em fase de recurso administrativo previsto no edital".
Indiretamente, a UFPA responsabilizou LĂvia pelo próprio indeferimento. "Só são indeferidos em definitivo estudantes que não completem a documentação exigida ou apresentem inconsistĂȘncia nas informações e documentações disponibilizadas", complementou a instituição.
LEIA A ĂNTEGRA DA NOTA:
"A Universidade Federal do ParĂĄ informa que a reserva de vagas a estudantes de baixa renda em seus processos seletivos é regulamentada pela Lei 12.711/2012, conhecida como Lei de Cotas, e pela Portaria Normativa nÂș 18, de 11 de outubro de 2012, do Ministério da Educação. Tais vagas são destinadas a estudantes oriundos de famĂlias cuja renda bruta per capita não ultrapasse 1,5 salĂĄrio-mĂnimo.
Para ter direito a essas vagas, o estudante precisa comprovar essa condição de renda por meio de documentação obrigatória informada tanto no edital de inscrição do processo seletivo quanto no edital especĂfico de habilitação após a classificação na seleção.
A Universidade avalia a condição de renda do estudante exclusivamente por meio da documentação apresentada. Em caso de não apresentação ou apresentação incompleta dos documentos, o estudante tem a chance de resolver qualquer pendĂȘncia em fase de recurso administrativo previsto no edital.
Só são indeferidos em definitivo estudantes que não completem a documentação exigida ou apresentem inconsistĂȘncia nas informações e documentações disponibilizadas. Esse procedimento é padrão para todos os candidatos, visando evitar possĂveis fraudes no sistema de cotas.
A UFPA reitera seu compromisso com a inclusão e o enfrentamento de desigualdades no ensino superior, em atenção à legislação vigente para que as cotas contemplem as pessoas a quem são direcionadas."
ENTENDA O CASO
LĂvia LetĂcia estava celebrando com a famĂlia o fato de ter sido aprovada na Universidade Federal do ParĂĄ e poder se tornar a primeira médica do clã, que é de origem humilde na cidade de Capanema, no nordeste paraense. No entanto, ela não esperava que os dias seguintes se transformariam em um grande drama para garantir sua vaga na maior instituição de ensino superior do Estado.
O caso foi denunciado no Instagram por outra moça chamada Lucyene Nascimento, que conheceu LĂvia na fila de matrĂcula e ficou sensibilizada com a situação que poderia fazer a caloura perder sua vaga em um dos vestibulares mais concorridos do Brasil.
De acordo com a publicação, LĂvia trabalhava como garçonete das 6h às 18h e aproveitava o perĂodo da noite para estudar para a prova. Lucyene também ressaltou que a universidade não ofereceu tempo hĂĄbil para a entrega dos documentos necessĂĄrios: o listão de aprovados saiu na sexta-feira, 17 de fevereiro, antes do carnaval, e a data para a entrega dos documentos foi na quinta-feira, dia 23 do mesmo mĂȘs (depois do carnaval).
Segundo a denĂșncia, a caloura conseguiu entregar a documentação, mas esta foi indeferida pela Universidade por não ser considerada de baixa renda. Entretanto, a famĂlia da jovem receberia menos de um salĂĄrio-mĂnimo, e a UFPA exige 1,5 salĂĄrio-mĂnimo per capita para entrar na cota. O caso entrarĂĄ na justiça.
Nas redes sociais, é possĂvel ver fotos do dia de comemoração de LĂvia com seus avós e o resto da famĂlia, além dos seguintes dizeres em uma placa: "É Federal, LĂvia LetĂcia, Medicina, Orgulho da famĂlia e da escola Oliveira Brito".
REPERCUSSÃO
O caso viralizou nas redes sociais e ganhou proporção. Vereadores de Capanema, cidade onde LĂvia mora, interviram e a própria Comissão de Educação da Assembleia Legislativa do Estado do ParĂĄ (Alepa) cobra uma resposta da UFPA sobre o indeferimento da matrĂcula da jovem.
Advogados se disponibilizaram a ajudar a estudante a conseguir pleitear a vaga, que é sua por direito. Outros juristas e autoridades também prestam apoio à LĂvia e aguardam pelos desdobramentos do caso junto à Defensoria PĂșblica da União.
DOL