Morte em comício

Ex-primeiro ministro japonês é morto em comício

O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi assassinado após ser baleado durante comício na cidade de Nara, perto de Quioto. A notícia foi dada pela NHK, a televisão estatal do Japão, e confirmada pelo hospital.

 Shinzo Abe morreu depois de ter sido baleado durante um evento de campanha. | Reprodução
Shinzo Abe morreu depois de ter sido baleado durante um evento de campanha. | Reprodução

O ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe morreu depois de ter sido baleado durante um evento de campanha nesta sexta-feira (8), informaram o canal público NHK e a agência de notícias Jiji.

"De acordo com uma fonte do PLD (Partido Liberal Democrata), o ex-primeiro-ministro Abe morreu em um hospital na cidade de Kashihara, na região de Nara, onde estava recebendo tratamento médico. Ele tinha 67 anos", afirmou a NHK.

Ainda de acordo com a NHK, Abe foi levado inconsciente ao hospital e teve uma parada cardiorrespiratória - o que, no Japão, indica a ausência de sinais de vida e geralmente precede um atestado de óbito oficial. Segundo informações da emissora citando fontes policiais, um homem de cerca de 40 anos foi desarmado e preso por tentativa de homicídio.

Em um pronunciamento feito mais cedo, o chefe de governo, Fumio Kishida, disse que o ex-premiê estava em estado "muito grave" e considerou o atentado "absolutamente imperdoável".

"É um ato de barbárie durante a campanha eleitoral, que é a base da democracia, e é absolutamente imperdoável. Condeno este ato nos termos mais fortes", acrescentou o atual primeiro-ministro.

Imagens exibidas pela NHK mostram Abe de pé em um palco quando é possível ouvir um grande barulho e observar fumaça. Pouco depois, um homem foi imobilizado por agentes de segurança.

O governo japonês anunciou a criação de uma força-tarefa após o ataque, que provocou uma série de reações internacionais.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, expressou tristeza e preocupação com o caso. Abe era tido como um aliado de Washington. "Este é um momento muito, muito triste", declarou Blinken à imprensa durante a reunião do G20 em Bali.

A TRAJETÓRIA DE ABE

Vítima do ataque, Shinzo Abe bateu recordes como o primeiro-ministro mais longevo do Japão, resistindo a vários escândalos político-financeiros.

Abe tinha 52 anos quando assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2006 e se tornou a pessoa mais jovem a ocupar a posição.

Seu primeiro mandato foi turbulento, marcado por escândalos e disputas, e terminou com sua renúncia abrupta após um ano.

Recuperado, ele voltou a ser candidato e retornou ao cargo de primeiro-ministro como um salvador do país em dezembro de 2012. Sua vitória encerrou um período turbulento em que os primeiros-ministros se sucediam ao ritmo de de até um por ano.

Afetado pelos efeitos do tsunami em 2011 e o desastre nuclear de Fukushima, o Japão encontrou em Abe uma mão confiável.

A ERA 'ABENOMICS'

Abe ficou famoso no exterior por sua estratégia de recuperação econômica, conhecida como "abenomics", iniciada em 2012, na qual misturou flexibilização monetária, grande recuperação orçamentária e reformas estruturais.

Alguns avanços foram registrados, como o aumento da taxa de emprego das mulheres e dos idosos. O país também passou a recorrer de maneira mais intensa à imigração para enfrentar a escassez de mão de obra.

Porém, sem reformas realmente ambiciosas, o programa teve sucesso apenas parcial, atualmente ofuscados pela crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus.

TEMPESTADES POLÍTICAS

Abe foi preparado desde muito jovem para exercer o poder, marcado pela história familiar de duas gerações de líderes políticos antes dele.

A grande ambição de Abe era revisar a Constituição pacifista do Japão de 1947, redigida durante a ocupação por parte dos Estados Unidos, e nunca alterada.

No cenário internacional, Abe adotou uma linha dura com a Coreia do Norte, mas assumiu um papel de pacificador entre Estados Unidos e Irã.

Ele priorizou um relacionamento próximo com o ex-presidente americano Donald Trump para proteger a relação entre os dois países do nacionalismo de Trump, ao mesmo tempo que tentou ajustar os vínculos com Rússia e China.

Mas os resultados foram mistos: Trump insistiu em forçar o Japão a pagar mais pelos soldados americanos presentes no país, não conseguiu concretizar um acordo com a Rússia sobre ilhas em disputa e o mesmo aconteceu com seu plano de convidar o presidente chinês, Xi Jinping, para uma visita de Estado.

Abe, muitas vezes atingido por escândalos que afetaram pessoas próximas, soube aproveitar os acontecimentos externos - lançamentos de mísseis norte-coreanos, desastres naturais - para desviar a atenção e se apresentar como um líder indispensável diante das adversidades.

Também foi beneficiado pela falta de um rival do mesmo porte dentro de seu partido, PLD (Partido Liberal Democrata), e a fragilidade da oposição, que ainda não se recuperou de sua passagem desastrosa pelo governo entre 2009 e 2012.

Mas sua popularidade caiu a partir do início da pandemia de covid: as ações do governo Abe foram consideradas lentas e confusas.

Durante muito tempo ele se agarrou à esperança de manter os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020, que seriam o grande momento de de seu mandato.

Fonte: DOL

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